quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Peça Televisiva - Estágio SIC

Ana Free

Peça realizada para a Edição de Fim-de-Semana da SIC, com a coordenação de Maria João Ruela.

Peça sonorizada por jornalista da SIC.

Peça Televisiva - Estágio SIC

Semana da Mobilidade

Peça realizada para o Primeiro Jornal da SIC, com a coordenação de Maria João Ruela.

Peça sonorizada por jornalista da SIC.

Peça Televisiva - Estágio SIC

Surto Ébola

Peça realizada para a Edição do Meio-Dia da SIC - Notícias, com a coordenação de Paulo Nogueira

Peça Televisiva - Estágio SIC


Incêndios Grécia

Peça realizada na Edição da Manhã da SIC Notícias com a coordenação de Rodrigo Pratas - Notícia de última hora

Peça Televisiva - Estágio SIC

Yoga para Surfistas

Peça realizada para a Edição de Fim-de-Semana da SIC, com a coordenação de Maria João Ruela.

Peça sonorizada por jornalista da SIC.

Artigo Jornal de Coruche - Novembro 2008

Nos bastidores do mercado

Estão onze graus às seis horas da manhã. Coruche ainda dorme. Os primeiros sinais de um novo dia acontecem ainda durante a noite nos bastidores do Mercado Municipal. Caixotes de hortaliças, batatas, frutas e paletes de peixe esperam já pelos vendedores habituais.
Do outro lado da rua, a vila começa também a ganhar vida. As luzes acendem-se dentro dos cafés. Levantam-se as cortinas e baixam-se os toldos. Os jornais diários e as revistas são descarregados nas bancas e há até quem espere ansiosamente para folhear as primeiras páginas.
É quinta-feira e o mercado abre as portas uns minutos antes das sete. A primeira banca a ser preenchida é a do peixe fresco. O senhor António Marques faz os últimos preparos para começar um novo dia de vendas que, segundo diz, “são muito ruins hoje em dia”. Lulas, robalos, peixe-espada, douradas, carapaus, acumulam-se na ba
nca à espera dos primeiros clientes. Hoje em dia só começam a chegar a partir das nove ou dez horas da manhã. Mas o Sr. Marques queixa-se de que “são cada vez menos, aparece gente mas não é igual ao que era”. ”Há dez anos atrás” – continua – “as vendas começaram a cair. A crise também ajuda, o poder de compra é mais baixo.”
Felícia Luís vende há vinte e dois anos neste mercado e refere que, para além da crise, os supermercados também vieram tirar clientes. “Aqui a fruta e as hortaliças têm mais qualidade, mas no supermercado, como podem comprar tudo de uma vez, acabam por não ligar nem à qualidade nem aos preços. Muitas vezes pagam o mesmo que aqui ou mais caro”. Mas nem todos os clientes o fazem. Para bem da manutenção do mercado, ainda há qu
em prefira o mercado tradicional às prateleiras e corredores das grandes superfícies. Domingas Galvão é cozinheira no restaurante O Rossio e vem ao mercado todos os dias. “Gosto de vir aqui, os produtos são mais caseiros”, diz. À sexta-feira faz as compras maiores para o restaurante, nos outros dias da semana, atravessa a rua para vir buscar aquilo que fizer falta.
Na banca em frente está Maria Antónia Conceição, uma alentejana do Redondo que assentou praça em Coruche há 54 anos. Maria Antónia não vem para aqui pelo dinheiro. Durante a semana as vendas são muito fracas. Os dois euros e meio ou cinco euros que factura por dia não compensa os trinta e oito euros que paga mensalmente pela banca. Mas é o seu passatempo, confessa – “eu estou sozinha, sou viúva, e prefiro vir para aqui do que ficar e
nfiada em casa. Ao menos aqui distraio-me com alguém que vá passando e falando”.
Três bancas montadas e um cliente rara a vez fazem os dias de semana do mercado. Só ao Sábado o ritmo é outro. O silêncio das manhãs de semana acaba e ouve-se o burburinho das conversas, e sentem-se os cheiros misturados das verduras, do peixe, dos queijos e as cores enchem por completo as bancas do mercado.
Maria Espadaral vem quase todos os sábados porque “gosta mais de vir aqui”. Também vai aos supermercados, mas é na praça que compra “sempre as hortaliças e os frangos porque os produtos são melhores”, refere. A maioria das pessoas queixa-se dos preços, mas Maria Espadaral não concorda, “agora tudo é caro, por isso, prefiro comprar aqui que é tudo caseiro e
fresco.”
“Aqui é tudo nosso! As couves, as nabiças, os repolhos, alho francês…isto são tudo coisas nossas! Laranjas, pimentos, cenouras, feijão verde, é tudo da nossa produção!”, grita Maria Germínio detrás da banca onde vende há catorze anos. “As pessoas queixam-se dos preços, mas temos que comprar adubos, pesticidas, estrumes, gasóleo para os tractores…”. O produto tem que fazer render os custos da produção.
Maria Guilhermina tritura salsa enquanto justifica também os preços mais altos. “Dantes vendíamos uma coisa por cem escudos, agora vendemos por um euro. É o dobro. O adubo também aumentou. É tudo mais caro! Não podemos vender muito barato, senão mais vale estarmos quietos.” Já com os seus setenta e poucos anos vem vender na praça há cerca de quarenta. Agora vem só aos sábados porque, segundo diz, “já não vale a pena vir
nos outros dias”. “No princípio”- recorda - “quando chegava, já nem tinha banca porque estavam todas ocupadas! Mas agora há muito menos clientes e os próprios vendedores deixam de vir”.
Alguns vendedores deixam de vir porque não têm lucro, outros vêm por amor à camisola. Às onze horas da manhã, Cristina Brasileiro já vendeu quase tudo. Restam-lhe apenas algumas abóboras para esvaziar a banca. A avó vendia aqui há 47 anos e um dia Cristina teve que substituí-la. Ganhou-lhe o gosto e continuou a vir já lá vão dois anos. “Gosto de vender, contactar com as pessoas, ter experiências novas, vivências novas”, são algumas das razões porque Cristina começou a vender na praça. “Agora já não consigo abandonar isto” – diz com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios.
Uns vêm por gosto, outros para passar o tempo, outr
os por necessidade. Enquanto houver vendedores, haverá sempre um cliente a preferir o tradicionalismo, o cheiro e a nostalgia do mercado. Haverá sempre um novo dia a começar ainda noite e a acordar a vila de Coruche.


Texto e fotografias: Laura Macedo

Artigo Jornal de Coruche - Outubro 2008

Num liceu de muitos tempos
Pelo meio de atalhos ou pela calçadinha, passando por rotundas e passeios, chegamos à Escola Secundária de Coruche, ou como é mais vulgarmente conhecida, ao liceu. E antes de podermos subir a rampa, salta-nos à vista uma diferença. A portaria funciona agora como uma primeira triagem para que visitantes possam entrar. Depois de então preenchido o impresso com o nome, hora de entrada, assunto e local aonde nos dirigimos, lá podemos seguir viagem num passado que já não é o nosso. “Antigamente não havia esse controlo” - recorda José António Martins, antigo aluno da Escola Secundária – que defende que ”os jovens devem ter liberdade para poderem fazer escolhas”. Mas agora todos os alunos são obrigados a passar o cartão de estudante electrónico nos sensores existentes, de forma a indicar a entrada e saída no recinto escolar. Para além disso, o cartão identifica os estudantes e permite também pagar todos os bens e serviços adquiridos na escola. O velho cartão de papel que raramente acabava o ano intacto foi substituído no último período do ano passado. As vantagens são muitas, mas existe um pequeno senão, como refere Sara Júlio do 10º ano, “se falta a luz e o sistema vai abaixo, temos que estar muito tempo sem comer, o que já aconteceu durante uma manhã inteira”. Durante a tarde tudo parece igual. Mas passam alguns minutos das quatro - hora de intervalo - e são poucos os alunos que estão no pátio. Comparando com os tempos antigos, ninguém diria que a campainha acabou de tocar para sair. Não há alunos amontoados à porta dos blocos, não se ouve o constante burburinho provocado pelas vozes ainda por definir dos jovens. Vejo apenas três ou quatro alunos dispersos enquanto caminho na direcção da Papelaria onde se situa a porta de entrada para o bloco. Aí, está um quiosque. Um ecrã, onde através do cartão electrónico, cada aluno encomenda as refeições da cantina. O mesmo cartão pode ser carregado com um montante mínimo de um euro e todos os artigos da papelaria (onde se efectuam os carregamentos), da reprografia e do bar são descontados no saldo. Seguindo até ao bar as cores são outras. Mais vivas. Os tons de azul, laranja e verde alface animam o espaço praticamente vazio. Mas do outro lado do balcão quase tudo permanece igual. Mariana Neves é funcionária do bar “há tanto tempo que já perdeu a conta”. “Trinta e tal anos…” - diz a medo. Está aqui há tempo suficiente para ter acompanhado várias gerações, hábitos, costumes, transformações. Num espaço de trabalho que entretanto foi ampliado, Mariana considera que uma das grandes mudanças tem que ver com a alimentação dos alunos. As batatas fritas de pacote, a Coca-Cola, chocolates e donuts já não estão do outro lado da vitrina. O espaço vazio é ocupado pelos iogurtes, fruta, sumos naturais e outros alimentos igualmente saudáveis. Mas a fatia de bolo de chocolate, que se vende uma a duas vezes por semana, o pão com chouriço e os croissants continuam a matar a fome dos mais novos que até concordam com esta mudança. “Há quem não goste, mas assim é melhor para evitar futuros problemas de saúde como a obesidade”, diz Alexandre Martins, 10º ano. O Miguel Nuno, do 11º ano, adianta que se “a escola dá formação aos alunos, essa deve passar também pela aprendizagem de bons hábitos alimentares”. O mesmo defendem os eurodeputados, que querem proibir na totalidade a venda de alimentos e bebidas com elevado teor de gordura, sal ou açúcar. A União Europeia fez recentemente um apelo às autoridades escolares para que controlem e melhorem a qualidade e as normas nutricionais das refeições nas escolas e nos infantários. Cuidados que já estão a ser postos em prática pela Escola Secundária de Coruche e que, de acordo com Mariana Neves, “têm feito a diferença” porque nota que “os alunos já começam a ter mais cuidado com o que comem”. No entanto, José António Martins, defende que a solução não passa pela proibição da venda desse tipo de alimentos porque “se não compram na escola, acabam por comer em casa ou noutro lado qualquer”. O mesmo refere Frederico Condeço, 36 anos. Para o antigo aluno, este é um assunto preocupante, (prevê-se que nos próximos dois anos, pelo menos mais 1.3 milhões de crianças serão obesas ou terão peso a mais), - mas defende que a solução deve passar pela actividade escolar. “Os jovens de hoje ocupam o tempo com a televisão, jogos de computador, filmes, telemóveis…Antigamente, no intervalo de dez minutos íamos jogar futebol, fazíamos torneio de matraquilhos e pingue-pongue, jogávamos à bota e ao lá-vai-alho…éramos mais enérgicos”. Agora os estudantes passam mais tempo entre quatro paredes. Na biblioteca dispõem de uma pequena videoteca e de um espaço de informática com alguns computadores ligados à Internet. Maria da Conceição António trabalha aqui há uns bons anos e tem acompanhado a evolução do espaço que deixou para trás o ar escuro e invernal de outros tempos para ganhar novas cores frescas e juvenis. O chão, com riscas de tons ácidos, prolonga-se por mais duas salas que foram acrescentadas à biblioteca. As estantes de madeira sóbria e escura que preenchiam as paredes da sala são agora de um castanho caramelo, pequenas mas em maior número, distribuídas harmoniosamente. Na entrada, há ainda espaço para a leitura diária dos jornais e revistas. A biblioteca está mais atractiva para os alunos que, como diz Mª da Conceição, “estão mais ligados à parte tecnológica. Antes de a Internet aparecer consultavam-se mais livros e enciclopédias”.
Da biblioteca Frederico não tem grandes lembranças. “Passava lá só para cumprimentar a D. Conceição”, porque “criavam-se laços entre os alunos e os funcionários”. “Agora” - diz - “os jovens já não ligam a certas coisas que nós ligávamos. Há contínuos que não esquecemos e que cumprimentamos ao longo da vida.” Mariana Neves refere que essa é a principal diferença no comportamento dos jovens, pois “agora há menos interacção e as relações são mais frias”. Os alunos de hoje não sabem o nome dos funcionários, não fazem tanto barulho, não ocupam o tempo com as mesmas coisas e também não fumam. Pelo menos, dentro da escola. O fumo foi proibido, mesmo nos espaços ao ar livre. Algo que não levanta muita polémica: a maioria concorda. Ricardo Marques, aluno do 12º ano, acredita que essa proibição tem tido influência no número de jovens fumadores. ”Os mais novos não vêem os mais velhos a fumar e como na adolescência há uma tendência para a imitação de comportamentos, os novos hábitos acabam por ser copiados.” Os hábitos dos alunos foram os que mais mudaram, uns para melhor, outros para pior.
Gerações de adolescentes que entram e saem por este portão. Entrego o impresso assinado com a devida hora de saída e deixo para trás um liceu de agora, mas com as mesmas caras que tão bem conhecem os futuros homens e mulheres de amanhã.


Texto e fotografias: Laura Macedo