Estão onze graus às seis horas da manhã. Coruche ainda dorme. Os primeiros
Do outro lado da rua, a vila começa também a ganhar vida. As luzes acendem-se dentro dos cafés. Levantam-se as cortinas e baixam-se os toldos. Os jornais diários e as revistas são descarregados nas bancas e há até quem
É quinta-feira e o mercado abre as portas uns minutos antes das sete. A primeira banca a ser preenchida é a do peixe fresco. O senhor António Marques faz os últimos preparos para começar um novo dia de vendas que, segundo diz, “são muito ruins hoje em dia”. Lulas, robalos, peixe-espada, douradas, carapaus, acumulam-se na banca
Felícia Luís vende há vinte e dois anos neste mercado e refere que, para além da crise, os supermercados também vieram tirar clientes. “Aqui a fruta e as hortaliças têm mais qualidade, mas no supermercado, como podem comprar tudo de uma vez, acabam por não
Na banca em frente está Maria Antónia Conceição, uma alentejana do
Três bancas montadas e um cliente rara a vez fazem os dias de semana do mercado. Só ao Sábado o ritmo é outro. O silêncio das manhãs de semana acaba e ouve-se o burburinho das conversas, e sentem-se os ch
Maria Espadaral vem quase todos os sábados porque “gosta mais de vir aqui”. Também vai aos supermercados, mas é na praça que compra “sempre as hortaliças e os frangos porque os produtos são melhores”, refere. A maioria das pessoas queixa-se dos preços, mas Maria Espadaral não concorda, “agora tudo é caro, por isso, prefiro comprar aqui que é tudo caseiro e fresco.”
“Aqui é tudo nosso! As couves, as nabiças, os repolhos, alho francês…isto são tudo coisas nossas! Laranjas, pimentos, cenouras, feijão verde, é tudo da nossa produção!”, grita Maria Germínio detrás da banca onde vende há catorze anos. “As pessoas queixam-se dos preços, mas temos que comprar adubos, pesticidas, estrumes, gasóleo para os tractores…”. O produto tem que fazer render os custos da produção.
Maria Guilhermina tritura salsa enquanto justifica também os preços mais altos. “Dantes vendíamos uma coisa por cem escudos, agora vendemos por um euro. É o dobro. O adubo também aumentou. É tudo mais caro! Não podemos vender muito barato, senão mais vale estarmos quietos.” Já com os seus setenta e poucos anos vem vender na praça há cerca de quarenta. Agora vem só aos sábados porque, segundo diz, “já não vale a pena vir nos outros dias”. “No princípio”- recorda - “quando chegava, já nem tinha banca porque estavam todas ocupadas! Mas agora há muito menos clientes e os próprios vendedores deixam de vir”.
Alguns vendedores deixam de vir porque não têm lucro, outros vêm por amor à camisola. Às onze horas da manhã, Cristina Brasileiro já vendeu qu
Uns vêm por gosto, outros para passar o tempo, outros por necessidade. Enquanto houver vendedores, haverá sempre um cliente a preferir o tradicionalismo, o cheiro e a nostalgia do mercado. Haverá sempre um novo dia a começar ainda noite e a acordar a vila de Coruche.
Texto e fotografias: Laura Macedo
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